Plantas de marihuana

Principais carências e excessos de nutrientes no cultivo de cannabis: como identificá-los e corrigi-los

Ouça as suas plantas: elas sabem quando algo não vai bem

Cultivar cannabis vai muito além de aplicar fertilizantes e esperar resultados. É uma relação viva com a planta, um diálogo silencioso que exige observação, intuição e sensibilidade.

No tema nutrição, o equilíbrio não é apenas desejável: é fundamental. Um pequeno desvio — por falta ou por excesso — pode desencadear um efeito dominó que trava o desenvolvimento, afeta a floração ou compromete a qualidade final das flores.

Por que é tão importante manter o equilíbrio nutricional?

As plantas de cannabis desenvolvem-se rapidamente, absorvendo muitos nutrientes e passando por fases bem marcadas ao longo de todo o processo. Da germinação à floração, cada etapa tem exigências próprias de luz, água, temperatura e alimentação.

Quando esse equilíbrio se quebra — por excesso, carência ou condições inadequadas — a planta começa a enviar sinais visíveis: mudanças de cor nas folhas, crescimento lento, deformações. Aprender a ler esses sinais e agir a tempo faz a diferença entre uma colheita bem-sucedida e outra que fica pelo caminho.

Carências e excessos: duas faces do mesmo problema

Folhas que “falam”: manchas, cores estranhas e deformações

As folhas são o primeiro alerta. Verde a desvanecer, pontas secas, margens queimadas… Vários sintomas se repetem entre carências distintas; analise o conjunto e evite diagnósticos apressados.

Mudanças no desenvolvimento e na floração

Para além do aspeto, uma planta mal nutrida denuncia-se pelo crescimento: estagnação, caules fracos, flores que não ganham volume. Uma floração irregular ou produção pobre, muitas vezes, tem origem no substrato.

Detectar cedo faz a diferença

Nos primeiros sinais é simples atuar; se se adia, a recuperação pode levar semanas… ou não chegar. Observe com regularidade e aja com critério.

Carências frequentes e como responder

Falta de nitrogénio: folhas pálidas e crescimento apagado

Se as folhas inferiores amarelecem e a planta “não anda”, falta nitrogénio, nutriente-chave na fase vegetativa.

O que fazer: aplicar adubo rico em nitrogénio ou reforçar com extratos orgânicos (por exemplo, macerado de urtiga).

Défice de fósforo: floração lenta e tons púrpura

Floração aos solavancos e cores escuras/arroxeadas nos caules sugerem falta de fósforo, vital para flores e resinas.

Solução: usar fertilizante de floração e garantir pH adequado para boa absorção.

Escassez de potássio: pontas queimadas e fraqueza geral

Pontas castanhas, bordas secas e atraso de maturação são típicos. Pode haver maior sensibilidade a pragas.

Como agir: reajustar o plano de adubação e incluir suplementos ricos em potássio.

Nutrientes secundários: cálcio, magnésio, enxofre

Cálcio fortalece tecidos, magnésio ativa a fotossíntese, enxofre participa da formação de proteínas.

Dica: com água de osmose ou muito macia, acrescente produtos do tipo CalMag ou adubos mais completos.

Micronutrientes: pequenos mas essenciais

Ferro, zinco, manganês… Em falta, o sistema desregula. Carência de ferro costuma causar clorose nas folhas novas (nervuras verdes, tecido amarelado).

Recomendação: rever o pH e aplicar corretivos específicos se a carência for confirmada.

Quando passamos da conta: os excessos nutricionais

Superfertilização: saturação, bloqueios e stress

O excesso, mesmo bem-intencionado, acumula sais, satura o substrato e reduz a eficiência das raízes. Sinais: pontas queimadas, folhas rígidas, cores pouco naturais.

Excesso de nitrogénio: verde muito escuro e flores que não evoluem

Comum na vegetativa; se persiste na floração, trava a resina e gera flores moles. Folhas grandes, brilhantes e curvadas para baixo são típicas.

Lavagem das raízes: a ferramenta que reinicia o substrato

Perante acumulação ou bloqueio, lave com água de pH ajustado (6,2–6,5), deixando drenar o excedente.

Depois, aguarde alguns dias e reintroduza a nutrição gradualmente, conforme a resposta da planta.

Como evitar desequilíbrios

Controlo do pH: base que não se pode descuidar

O pH da água e do substrato determina a disponibilidade de nutrientes. Fora da faixa ideal, o melhor adubo não resulta. Verifique-o com regularidade.

Escolher e usar bem os fertilizantes

Orgânicos libertam de forma progressiva; minerais oferecem resposta imediata. Conheça o produto e respeite as doses — mais não é melhor.

Planeamento e acompanhamento

Um diário de cultivo — datas, doses, observações — ajuda a identificar padrões, antecipar problemas e melhorar a cada colheita.

Se o problema já apareceu: passos para reverter

Observar com calma e procurar a origem

Nem tudo que parece carência é carência. Amarelecimento, pontas queimadas e manchas podem decorrer de bloqueio de nutrientes ou até de excesso de algum elemento.

Evite “adubar por precaução”: costuma piorar. Avalie o estado geral, o contexto do cultivo e confirme antes de agir.

Corrigir de forma gradual

Identificada a falha de nutrição ou de ambiente, ajuste por etapas. Introduzir um nutriente em falta ou reduzir um excesso deve ser feito sem brusquidão.

Pequenas alterações seguidas de observação durante alguns dias conduzem a uma recuperação estável e sem sobrecarga.

Cuidados extra durante a recuperação

Ambiente estável e previsível: luz constante, boa ventilação e rega controlada (sem encharcar nem deixar secar em excesso).

Minimize choques: transplantes desnecessários, podas agressivas e variações bruscas de temperatura atrasam a recuperação.

Cuidar é entender: o cultivo como prática sensível

Cultivar cannabis é técnica e também arte. Para além de uma tabela de adubação, trata-se de observar, interpretar e responder ao que a planta realmente necessita em cada momento.

Cada exemplar é único. Saber “ler nas entrelinhas” — detetar a tempo um desequilíbrio — revela experiência, intuição e respeito pelo ritmo vegetal.